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terça-feira, 2 de novembro de 2010

o entorno mudou...
foram meses de metamorfose
finalmente estou em meu casulo
cansei de ficar em outros
preciso cuidar de mim
vermelho e laranja são as cores que sonhei.
Volto depois de uma jornada.
Começo a andar de novo, agora.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

me vi dançando numa tela estreita.
braços e mãos tocavam as grades...
ode remota e descontínua toca no meu corpo
a partir de agora.
sinto cada acorde...
ao olhar.
metade da porta se fecha,
cacos de vidro sob meus pés
angústia e sorriso saem da minha boca.
o primeiro por nao ter alternativa.
o segundo porque tudo pode ser um grande mal entendido.
sorria...você está sendo filmada....
cada passo seu
sapato de salto vermelho.

Insônia

A noite demora a passar
Minha cabeça espalha mil pensamentos
como confetes de carnaval pelos ares.
Você me fez feliz por existir e
Contou-me histórias da minha velhice
sem saber o que fazia.
Não, não tenho mais o mesmo sorriso, nem os mesmos sonhos.
Já morri uma dezena de vezes.
Depois que me mataram uma vez ninguém mais o fará.
morro sozinha.
Acredito nas pessoas e nas ideias por talvez ter vivido demais e agora só quero olhar as estrelas...
Enquanto você prefere o sol.
Que bom que somos diferentes
assim posso me sentir inteira mais uma vez.
Inteira por chorar olhando em teus olhos.

Pedi que escrevesse em uma folha.
Era folha vazia da minha existência.
Você anotou um nome.
fico tocando cada letra como se pudesse
tocar e entender tua alma como uma cega
que procura tatear significados.
Partitura de música inaudível
apenas meu corpo escuta sua ausência.
Silêncio nas minhas memórias.
Você está longe
ouço o corpo tocar os sons
Estalar dos ossos.
Seu anel gira e por ele passam todas as estações.

domingo, 25 de julho de 2010

estou há séculos
esperando.
quero decorar poemas
se acaso você algum momento estiver
aqui do meu lado
minhas mãos procuram as suas.
sorrio sorriso sem sentido
sombras e caminhos
queria passar as mãos nos teus cabelos.
acho que na verdade quero somente andar ao teu lado.
olhar baixo
respiração completa
ouvir o mesmo vento batendo na alma.
Mas isso é pura ilusão.
tu não estás e nunca estará.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

noite longa.
conversei com você em meus sonhos
mas você calado respondia-me
o seu corpo andava e sua alma ficava ali parada me olhando.
dificil aceitar o amor...
melhor você ter tudo em outros universos
o meu está tomado por chuvas e tormentas.
você prefere olhar o sol
e sonhar
prefiro assim.
distancias.

terça-feira, 20 de julho de 2010

ficar só...
escorre muitas lágrimas pelas montanhas de meu corpo.
como cachoeiras as águas caem torrenciais.
preciso estar só para sentir.
preciso estar com as sensações:
perfumes texturas sorriso
verde e azul e laranja.
solidão me consola.
consola solidão-me.
tive sonhos essa noite...
sonhei com tiros e corpos despedaçados.
tempo partido...
queria por um instante voltar à minha infância,
como vi noite passada...infãncia passada num palco.
recordar e poder mudar
olhar de fora e matar todos os meus fantasmas.
O corpo dele era tomado por um êxtase quase insano...
O corpo do outro era preso em sua rigidez sublime.
Inferior e Superior
quem é quem ali na cena?
quem é quem na vida?
a vida guia-nos por estradas escuras.
queria abrir os olhos e te ver vivo, novamente.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

a tempos não lia cummings...

tem coisas que são minhas e não são mais nossas
às vezes dói na carne.
estou tentando cada vez mais esquecer o que era
e transformar em coisas somente minhas
.
choro...delícia de poema


e. e. cummings pode nem sempre ser assim

pode nem sempre ser assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
nesse silêncio que eu sei, ou nessas
palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;

se assim for, eu digo se assim for –
tu do meu coração, manda-me um recado;
que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & Alvim
1998

quarta-feira, 14 de julho de 2010

queria estar em teu corpo...
mas é impossível
contento-me em te olhar.
de longe para não me machucar.

paixões redescobertas....

volta a art nouveau
Caligrafia no papel branco arroz
ornamentos
cacos de vidros passeiam entre as palavras
Se é belle époque os tecido esvoaçam
o ferro são meus ossos e o vidro meus olhos.

terça-feira, 13 de julho de 2010

paisagem lá fora.
ouço bill evans no piano.
Andei falando demais.
Si..
len..
ciciar.
A menina falava demais, falava com todos e com as paredes.
As paredes tem sensações e as poeiras do cal se diluiam na pele da menina.
Olhos e ouvidos e boca.
seu rosto virou uma textura.
silenciou.

domingo, 11 de julho de 2010

"Um homem é todas as cousas que ele viu e todas as pessoas que passaram por ele, nesta vida" Teixeira de Pascoaes

Escritor português que transita entre filosofia e poesia, sensação e razão, eros e psiquê...


“Tudo é memória: um fumo leve, em mil visagens animadas; ou denso, em formas inertes e sombrias; e, ao longe, a grande fogueira invisível que os demónios e os anjos alimentam”

(...)

“Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo”


(Pascoaes, “O Pobre Tolo”, capítulo I, colecção “Obras Completas de Teixeira de Pascoaes”, organização de Jacinto do Prado Coelho, volume IX, Livraria Bertrand, 1973)


Sonho

Estrelas no céu, estrelas na terra. Ele estendeu um lençol, fecham os olhos e começam os sonhos porque ainda era noite.
Ela olhava para cima, Eros chegou em silêncio como faz. Sempre. Ele mostra uma parte de sua beleza no brillho que as estrelas provocam em sua pele, mas outra parte sua é sombra.Ele nunca se deixa desvendar, enigma eterno.
Corpo etéreo porque de tão perfeito os outros deuses não o deixaram ser matéria.
- Tu não tem forma exata, ainda não sei quem és. Dionísio ou Apolo?
- Pense em você agora. Amanhã descobrirá quem sou, devagar.
Noite corre, como se existissem cascos nos pés. Dança, teias de toques vão sendo desfiados e trançados nos dedos, nos braços, na pele, no olhar, nas vozes, nos poemas.
Estavam construindo juntos um casulo para ela, com todos os fios do acariciar. Aos poucos, bem lentamente ela sentiu rasgar em sua lateral um ponto, eram asas que começavam a desvencilhar da pele. Não ligou, continuou na trama de corpos pelo espaço que ganha sensações.
Manhã seguinte ela descobriu quem era ele. Metamorfose, ela se transformou em borboleta. Voa sozinha, mas o casulo ainda guarda para si.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Je vivroie liement

de Guillaume Machaut





sou comum
é triste saber,
porque queremos sempre ser especiais...
de algum modo.
Sou igual a todas que passam pela rua, a todas que o abraçam ,
a todas que choram em seu ombro.
estou atrás na verdade.
Foi um sonho rápido.

estou caindo dentro de mim mesma

estancando e calando meu choro porque nunca nada é meu.
e no fundo não quero que seja.

Por que o desejo de pessoas iguais a nós mesmos?
mesmos gostos, mesmos costumes?
quero me desafiar, não quero apaixonar-me pelo meu eu do outro lado do espelho.
quero me redescobrir no outro, no estranho, no fora de costume
para abrir meus horizontes.

e tenho mais que um.

Hoje consegui dormir. Sono.
suspiro de lembrar: você.
Perguntaste o que tem de tão especial: "tudo é como os outros são".
Engano seu.
Os tempos são diferentes, é como se você tivesse aberto uma porta nova em minha casa.
Uma que eu nunca havia entrado.
Você tomou-me inteira.
tempo espaços detalhes sorrisos e lágrimas.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

corpo está brilhante, Finalmente abre-se partes esquecidas da minha alma.
Meu coração está mais feliz. só agora.
Persigo amores que nunca chegarão porque
tudo está dentro de mim.
Porque ainda sinto tua mão em minhas pernas?
tua boca entre os meus beijos, se tudo está dentro?
neblina
Que lembranças solitárias terei.
porque amanhã você esquecerá.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

experimento diferentes emoçoes
percebo as luzes e os sons à minha volta.
a menina tocou os cabelos, fico preocupada porque as mãos estão vermelhas.
pingo água nas mãos
elas se diluem...
escrevo com meu olhar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

escutando purcell pela manhã
lembro-me de coisas que quero esquecer...
Há uma dor que corrói.
Quero ocupar o tempo o máximo possível
para lembrar-me somente do mínimo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

apenas um exercício de Dioniso



Como é facil amar as pessoas
ontem vi em teus poros beleza,
olhei fundo nas marcas de teu rosto.
Seu olhar me chamava
eu queria te amar
senti teu cheiro com as minhas mãos.
quando nos pediram para nos separarmos
obedeci e chorei como se tu fosse aquele amor perdido entre os fios das moiras.
De longe amava cada parte tua: o desenho de teus braços na parede branca,
o queixo que apontava para mim, o cabelo desgrenhado porque esteve entre as minhas mãos. seu andar lento e sua voz que tomava todo espaço daqueles instantes
sem dizer nada audível.
A intensidade do sentir, a força do acreditar e o instante efêmero de ter sido correspondida.

sexta-feira, 2 de julho de 2010


alegria-presença-descontração
pés-mãos-movimento
invenção-criação-rebuliço
coraçãopulsante-pernas-orelhas
sinto vida.
Abraça-me,
Dionísio.
brinca de pisar nas palavras.
seu silêncio me faz criar...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

para dani


como é bom ter alguém em quem se pode confiar...
às vezes, estou em ruínas, por dentro e por fora.
Então percebo que você pode ali ou aqui ao lado me dar a mão,
um abrigo um abraço uma escuta.
é dificil ter quem nos ouça
você tem esse dom
escuta meu silêncio e minha dor.

terça-feira, 29 de junho de 2010


como é bom parecer em paz
segundos eternos
ilusão
mesmo assim
sinto o sol
sinto cheiro de mar
sinto que a simplicidade pode
me salvar nesse instante.
amanhã nao sei.
quero ser simples.

domingo, 27 de junho de 2010


meu pensamento está contigo
minhas emoções sussuram em teus poros
de longe

você sente?

o vento que toca os teus lábios
são meus desejos
voe para longe
assim esqueço

você sentirá?

terça-feira, 22 de junho de 2010

cansaço...desde que ouvi vozes no jardim de folhas...
tenho estado cansada de ouvir
estou exausta de procurar razões
investigo verso por verso,
fala por fala
nao encontro nada.
estava errada
mais uma vez.

segunda-feira, 21 de junho de 2010


abri minha porta para ti...
deixei-a escancarada
voce nao quis entrar,
passou ao largo
que fiz eu das meus sonhos?
apenas eram ilusoes
agora ando olhando para o sol...
quero ver luzes coloridas.
quero fechar a porta.talvez voce entre pelas janelas
como um ladrao

domingo, 20 de junho de 2010


cada vez que saio do meu costumeiro cotidiano
parando para ver
estatica para olhar
muda de corpo
nao de alma
quero dancar
olhando os detalhes

quarta-feira, 16 de junho de 2010

estou vazia...
hoje consegui chorar
finalmente.
depois de ver a maré subir
depois de olhar para o lado e ver somente o escuro
consegui...
tudo fica umido
friagem noite

terça-feira, 15 de junho de 2010

Passo em frente sua casa.
olho
Janelas fechadas
Sonhos finalizados.
Como podemos fechar um sonho?
me sinto ridicula -
Alvaro de Campos pode..por que eu não?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

não queria chorar por vc...meu Dionísio...
que nao sabes que és meu.
estou sozinha e queria estar em seus braços.
estou chorando, dor de olhos
por nao ver. A lua é testemunha de seus amores.
eu nao.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

uma gota de água...
nao quero morrer de sede.
Às vezes é apenas isso que temos.
GOTA DE ÁGUA.
gota de lágrima.

domingo, 6 de junho de 2010


é impressionante como podemos ocupar o tempo,
tudo para não pensar em como ousei mais uma vez ser algo que não sou.
As perguntas de sempre: o que quero?
quero longe de mim o narcisismo,
quero perto a descoberta de novos caminhos.
auto-descoberta.
deixar-se levar pelo vento, pelo frio,
pelo calor e por arrepios...
mas ter plena consciencia do que sou
e de onde estou.
ASSUMIR-SE nao se esconder por tras de mascaras que ja nao me enganam mais.
ventos de mudança precisam tocar minha alma.
********************************************
Suspiros, sussurros.
A escrita como forma de sublimação.
Tenho lido sobre a imaginação.
É clara a minha imaginação frente a alguns acontecimentos
Para mim as coisas sempre tomam proporções homéricas.
E não era para ser assim.
Estou aqui para aprender e para errar.
Para tentar de novo e mais uma vez viajar nas asas da minha imaginação.
Escuto mais uma vez um sussurro: minha respiração ofegante olha para tras
"Você está sozinha menina!
É forte o suficiente para não ter medo e continuar."
Quantas máscaras preciso arrancar para me olhar nos olhos?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Muito obrigada por ter me mostrado...
agora isso tambem é meu...
como diz zeca baleiro "poesia nao tem dono"...
salve alberto caeiro:

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido.

ODE REMOTA E DESCONTINUA VI

Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.

Hilda Hilst




agora meu eu do alpendre fala:
tenho um Dionisio...
mas o tenho em meus sonhos.
Ele nao existe de verdade.
Nao posso entrar na vida dele
Só ele entrou na minha.
olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas
(ana cristina cesar)

quinta-feira, 3 de junho de 2010


LEITURA ORIGATÓRIA:

AMOR LIQUIDO
PRECISO DESSE LIVRO PARA ONTEM...

deitar-me sobre flores.
movimentos no chão e no ar.
Tudo gira ideais e ideias.
sou feita de que?
de açúcar? não.
de tristezas? talvez
de ossos e carne? com certeza.
de alma também.
Mas agora queria que tudo parecesse mais simples.
preto no branco
vermelho no tecido branco
sua presença parece percorrer minha vida além do estar contigo.
Isso não quero.
Sou sozinha, sem açucar, com algumas tristezas, com meu corpo e minha alma...essa talvez...


pensando sobre tudo...
está bem..TUDO é muita coisa.
pensando sobre o estar.
sobre a liberdade.
sobre os sonhos de "donzela".
Amar a pessoa no limite de ambos. Amar sem peso...
sem necessidade de estar perto.
Por que a construção de algo em comum????
...
deixe o comum para quando se tiver vontade. Amor desprendido.
estar NAQUELE MOMENTO com o outro...
depois não mais.
LIBERDADE.
será que consigo?

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Moça Tecelã

Marina Colasanti

"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."

descobertas...hoje dia cansado, dia cheio e ao mesmo tempo vazio.
cheio de gente
vazio de sentidos.
o sentido do dia a dia....
o porque de fazer...posso retrucar no por que de perguntar.
não questione menina.
faça, só nao repita seus erros de sempre....
dani escreveu que eu queria ser tecelã....
mas queria ser como a moça tecelã de marina colassanti...essa sim...tecelã menina, sonhos tecidos, desmanchados e refeitos ao sabor de mãos, olhares e texturas.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

construir mas estou fazendo meu"tecido" com seus detalhes...
corpotecido
peletecido
jeito de olhar
forma de tocar...sempre as mesmas ...pra todas
vc tem mais detalhes do que imagina...
mas só vc...eu nao tenho.
sabe por que?
olho pra ti.
presto atenção nos seus detalhes.
vc nao imagina ter tantas minimas sensações até se deparar
com improvável.
eu mais uma.
todas sao especiais
é a mesma coisa que dizer que nenhuma é
o bom é que pra mim algo de novo está se construindo.
estou tecendo novos olhares num novo corpo.
o meu o seu o nosso


ler....
fabricar palavras.
quem sabe assim fico submersa no universo da prosa e poesia.
olhando o cotidiano.
a correria do dia, a insonia da noite.
fabrico sonhos, através da minha insone noite.
No entanto, não posso sonhar com você.
nem te fabricar.
Você já existe, não posso te fabricar.
o tecido da tua pele existe. LEVE MACIO DOCE.
teu cheiro é adocicado.
Mel/canela/menta. Como posso tecer algo liquido e impalpável?
melhor estar com as palavras. provavelmente elas não me jogarão pra fora delas.
Elas me deixam estar aqui.
Minúscula fico a espera olhando o cotidiano.
Somente ele me salva.
Correrias
tiranas
diarias
olhe-me.
No dia-a-dia passo desapercebida.

domingo, 30 de maio de 2010

tarde

janelas... ruínas...
fábricas
fabricar palavras, gestos,
hoje vivi um sonho.
tarde de poesia e olhar.
Como é bom olhar para as coisas como se fosse a primeira vez.
descobrir o que tem de novo no velho
admirar-se com o nada... com o que ruiu...
com o que caiu, com a poeira, com as sombras, consigo mesmo.
REdescobrir a si mesma em um instante de paz.
Sons do tear ecoam na minha memória.
Sons de um passado escondido embaixo de linhas e texturas.
Acho que faço parte daquele lugar.
Mesmo tendo vivido ali apenas em meus sonhos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

queria esquecer alguns momentos...
ela estava deitada e queria ser amada. Mas por quem?
Isso pouco ou nada importava...
as pessoas não importavam..ela só queria o sentimento.
Olhando as unhas sujas ela deitou a cabeça e deixou seu coração
ali.
Merda
ela não sabia o que fazia
Porque sempre é assim??
"a vida é uma soma de escolhas"
quando faço arte?
como faço arte?
ando pensando muito na palavra "foco"...
justamente eu
o mundo oferece o desfocar...
o mundo oferece tudo
só precisamos escolher
E O QUE EU QUERO?
bill viola..
Installation art
transmutação do corpo
transcender os espaços


quinta-feira, 20 de maio de 2010

sinta..corpo mover-se
quero estar
sensações
pontos
alongue-se
de dentro para fora
a alma cresce
talvez nem tenha tanto para escrever..o estar sozinha me afeta??
paulinho da viola tinha razão
"solidão é lava que cobre tudo"....

Palomar

O livro do Calvino, foi muito importante por diferentes razões...
o tempo passa..
algumas marcas ficam
escrever..por que??
o olhar é necessário
a escrita nem sempre
Olhar direto
sem rodeios.
é melhor olhar...
movimento demais com os olhos podem me cansar
quero ficar parada
e de vez em quando poder fechar os olhos
mas quero acordar novamente

Alpendre

O alpendre me protege
está entre o interior e o exterior, não é nem uma coisa nem outra...
concordando com Bachelard, minha casa abrigou meus devaneios, meus sonhos...
o alpendre é aquele lugar...do lugar nenhum..não é meu quintal
não é meu quarto.
não é minhas gavetas..não é porão, nem sótão...
o brincar no espaço do alpendre me fez ter uma visão do público e do privado de forma não delimitada....
a ideia dos limites tenues..o alpendre faz parte do limite..ou dos arredores.
estou vivendo no meu alpendre...


amigo meu escreveu um livro de poesias...
sempre me impressiono o quanto os músicos podem ter
o dom de brincar e trabalhar com as palavras...
que são imateriais tanto quanto os sons
Através do teu Alpendre...
escrevo o meu

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O sábado é um dia novo

novas vidas novas perspectivas

Hilda tinha razão..a gente nunca conhece o ser humano

tudo que queria era paz...
mas parece que sempre estou em busca da tormenta

fecho os olhos

Pálpebras...
Fecho os olhos e sinto teu cheiro
Sinto as asas da tua boca chegarem na minha
Recortando movimentos pelo ar.

Minhas asas estão cansadas de voar
quero descansar em teus braços

Cópias

Sou uma parte de mim mesma copiada de quem???....
Talvez de mim mesma....reinventada..sempre

Sabe o que é bom do apaixonar-se???
É a possivel criatividade que dela advem...
seja o apaixonar-se por si mesmo...
ou pelo outro


"não fixe seu foco em mim"
(foco... isso que senti morre logo)

não escreva apenas sinta

se eu te amar?

Isso não existe

(pele, toque)
deseje
se voce sentir vontades?
nao faça nada
apenas espere.

respire

como?

olhe nós meus olhos

corpo arde

...e reinventa o velho hábito de desejar


posso dar sentido pra cada palavra, pra cada sensação...doida essas questoes de corpo...por uns segundos vc se sente INTEIRA