o entorno mudou...
foram meses de metamorfose
finalmente estou em meu casulo
cansei de ficar em outros
preciso cuidar de mim
vermelho e laranja são as cores que sonhei.
Volto depois de uma jornada.
Começo a andar de novo, agora.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
me vi dançando numa tela estreita.
braços e mãos tocavam as grades...
ode remota e descontínua toca no meu corpo
a partir de agora.
sinto cada acorde...
ao olhar.
metade da porta se fecha,
cacos de vidro sob meus pés
angústia e sorriso saem da minha boca.
o primeiro por nao ter alternativa.
o segundo porque tudo pode ser um grande mal entendido.
sorria...você está sendo filmada....
cada passo seu
sapato de salto vermelho.
braços e mãos tocavam as grades...
ode remota e descontínua toca no meu corpo
a partir de agora.
sinto cada acorde...
ao olhar.
metade da porta se fecha,
cacos de vidro sob meus pés
angústia e sorriso saem da minha boca.
o primeiro por nao ter alternativa.
o segundo porque tudo pode ser um grande mal entendido.
sorria...você está sendo filmada....
cada passo seu
sapato de salto vermelho.
Insônia
A noite demora a passar
Minha cabeça espalha mil pensamentos
como confetes de carnaval pelos ares.
Você me fez feliz por existir e
Contou-me histórias da minha velhice
sem saber o que fazia.
Não, não tenho mais o mesmo sorriso, nem os mesmos sonhos.
Já morri uma dezena de vezes.
Depois que me mataram uma vez ninguém mais o fará.
morro sozinha.
Acredito nas pessoas e nas ideias por talvez ter vivido demais e agora só quero olhar as estrelas...
Enquanto você prefere o sol.
Que bom que somos diferentes
assim posso me sentir inteira mais uma vez.
Inteira por chorar olhando em teus olhos.
Minha cabeça espalha mil pensamentos
como confetes de carnaval pelos ares.
Você me fez feliz por existir e
Contou-me histórias da minha velhice
sem saber o que fazia.
Não, não tenho mais o mesmo sorriso, nem os mesmos sonhos.
Já morri uma dezena de vezes.
Depois que me mataram uma vez ninguém mais o fará.
morro sozinha.
Acredito nas pessoas e nas ideias por talvez ter vivido demais e agora só quero olhar as estrelas...
Enquanto você prefere o sol.
Que bom que somos diferentes
assim posso me sentir inteira mais uma vez.
Inteira por chorar olhando em teus olhos.
domingo, 25 de julho de 2010
estou há séculos
esperando.
quero decorar poemas
se acaso você algum momento estiver
aqui do meu lado
minhas mãos procuram as suas.
sorrio sorriso sem sentido
sombras e caminhos
queria passar as mãos nos teus cabelos.
acho que na verdade quero somente andar ao teu lado.
olhar baixo
respiração completa
ouvir o mesmo vento batendo na alma.
Mas isso é pura ilusão.
tu não estás e nunca estará.
esperando.
quero decorar poemas
se acaso você algum momento estiver
aqui do meu lado
minhas mãos procuram as suas.
sorrio sorriso sem sentido
sombras e caminhos
queria passar as mãos nos teus cabelos.
acho que na verdade quero somente andar ao teu lado.
olhar baixo
respiração completa
ouvir o mesmo vento batendo na alma.
Mas isso é pura ilusão.
tu não estás e nunca estará.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
ficar só...
escorre muitas lágrimas pelas montanhas de meu corpo.
como cachoeiras as águas caem torrenciais.
preciso estar só para sentir.
preciso estar com as sensações:
perfumes texturas sorriso
verde e azul e laranja.
solidão me consola.
consola solidão-me.
escorre muitas lágrimas pelas montanhas de meu corpo.
como cachoeiras as águas caem torrenciais.
preciso estar só para sentir.
preciso estar com as sensações:
perfumes texturas sorriso
verde e azul e laranja.
solidão me consola.
consola solidão-me.
tive sonhos essa noite...
sonhei com tiros e corpos despedaçados.
tempo partido...
queria por um instante voltar à minha infância,
como vi noite passada...infãncia passada num palco.
recordar e poder mudar
olhar de fora e matar todos os meus fantasmas.
O corpo dele era tomado por um êxtase quase insano...
O corpo do outro era preso em sua rigidez sublime.
Inferior e Superior
quem é quem ali na cena?
quem é quem na vida?
a vida guia-nos por estradas escuras.
queria abrir os olhos e te ver vivo, novamente.
sonhei com tiros e corpos despedaçados.
tempo partido...
queria por um instante voltar à minha infância,
como vi noite passada...infãncia passada num palco.
recordar e poder mudar
olhar de fora e matar todos os meus fantasmas.
O corpo dele era tomado por um êxtase quase insano...
O corpo do outro era preso em sua rigidez sublime.
Inferior e Superior
quem é quem ali na cena?
quem é quem na vida?
a vida guia-nos por estradas escuras.
queria abrir os olhos e te ver vivo, novamente.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
a tempos não lia cummings...
tem coisas que são minhas e não são mais nossasàs vezes dói na carne.
estou tentando cada vez mais esquecer o que era
e transformar em coisas somente minhas.
choro...delícia de poema
e. e. cummings pode nem sempre ser assim
pode nem sempre ser assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
nesse silêncio que eu sei, ou nessas
palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;
se assim for, eu digo se assim for –
tu do meu coração, manda-me um recado;
que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.
e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & Alvim
1998
quarta-feira, 14 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
domingo, 11 de julho de 2010
"Um homem é todas as cousas que ele viu e todas as pessoas que passaram por ele, nesta vida" Teixeira de Pascoaes
Escritor português que transita entre filosofia e poesia, sensação e razão, eros e psiquê...
Escritor português que transita entre filosofia e poesia, sensação e razão, eros e psiquê...
“Tudo é memória: um fumo leve, em mil visagens animadas; ou denso, em formas inertes e sombrias; e, ao longe, a grande fogueira invisível que os demónios e os anjos alimentam”
(...)
“Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo”
(Pascoaes, “O Pobre Tolo”, capítulo I, colecção “Obras Completas de Teixeira de Pascoaes”, organização de Jacinto do Prado Coelho, volume IX, Livraria Bertrand, 1973)
Sonho
Estrelas no céu, estrelas na terra. Ele estendeu um lençol, fecham os olhos e começam os sonhos porque ainda era noite.
Ela olhava para cima, Eros chegou em silêncio como faz. Sempre. Ele mostra uma parte de sua beleza no brillho que as estrelas provocam em sua pele, mas outra parte sua é sombra.Ele nunca se deixa desvendar, enigma eterno.
Corpo etéreo porque de tão perfeito os outros deuses não o deixaram ser matéria.
- Tu não tem forma exata, ainda não sei quem és. Dionísio ou Apolo?
- Pense em você agora. Amanhã descobrirá quem sou, devagar.
Noite corre, como se existissem cascos nos pés. Dança, teias de toques vão sendo desfiados e trançados nos dedos, nos braços, na pele, no olhar, nas vozes, nos poemas.
Estavam construindo juntos um casulo para ela, com todos os fios do acariciar. Aos poucos, bem lentamente ela sentiu rasgar em sua lateral um ponto, eram asas que começavam a desvencilhar da pele. Não ligou, continuou na trama de corpos pelo espaço que ganha sensações.
Manhã seguinte ela descobriu quem era ele. Metamorfose, ela se transformou em borboleta. Voa sozinha, mas o casulo ainda guarda para si.
Ela olhava para cima, Eros chegou em silêncio como faz. Sempre. Ele mostra uma parte de sua beleza no brillho que as estrelas provocam em sua pele, mas outra parte sua é sombra.Ele nunca se deixa desvendar, enigma eterno.
Corpo etéreo porque de tão perfeito os outros deuses não o deixaram ser matéria.
- Tu não tem forma exata, ainda não sei quem és. Dionísio ou Apolo?
- Pense em você agora. Amanhã descobrirá quem sou, devagar.
Noite corre, como se existissem cascos nos pés. Dança, teias de toques vão sendo desfiados e trançados nos dedos, nos braços, na pele, no olhar, nas vozes, nos poemas.
Estavam construindo juntos um casulo para ela, com todos os fios do acariciar. Aos poucos, bem lentamente ela sentiu rasgar em sua lateral um ponto, eram asas que começavam a desvencilhar da pele. Não ligou, continuou na trama de corpos pelo espaço que ganha sensações.
Manhã seguinte ela descobriu quem era ele. Metamorfose, ela se transformou em borboleta. Voa sozinha, mas o casulo ainda guarda para si.
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psiquê em grego significa alma e borboleta.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
sou comum
é triste saber,
porque queremos sempre ser especiais...
de algum modo.
Sou igual a todas que passam pela rua, a todas que o abraçam ,
a todas que choram em seu ombro.
estou atrás na verdade.
Foi um sonho rápido.
estou caindo dentro de mim mesma
estancando e calando meu choro porque nunca nada é meu.
e no fundo não quero que seja.
Por que o desejo de pessoas iguais a nós mesmos?
mesmos gostos, mesmos costumes?
quero me desafiar, não quero apaixonar-me pelo meu eu do outro lado do espelho.
quero me redescobrir no outro, no estranho, no fora de costume
para abrir meus horizontes.
e tenho mais que um.
Marcadores:
Pierre Bonnard - mulher adormecida numa cama
Hoje consegui dormir. Sono.
suspiro de lembrar: você.
Perguntaste o que tem de tão especial: "tudo é como os outros são".
Engano seu.
Os tempos são diferentes, é como se você tivesse aberto uma porta nova em minha casa.
Uma que eu nunca havia entrado.
Você tomou-me inteira.
tempo espaços detalhes sorrisos e lágrimas.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
corpo está brilhante, Finalmente abre-se partes esquecidas da minha alma.
Meu coração está mais feliz. só agora.
Persigo amores que nunca chegarão porque
tudo está dentro de mim.
Porque ainda sinto tua mão em minhas pernas?
tua boca entre os meus beijos, se tudo está dentro?
neblina
Que lembranças solitárias terei.
porque amanhã você esquecerá.
Meu coração está mais feliz. só agora.
Persigo amores que nunca chegarão porque
tudo está dentro de mim.
Porque ainda sinto tua mão em minhas pernas?
tua boca entre os meus beijos, se tudo está dentro?
neblina
Que lembranças solitárias terei.
porque amanhã você esquecerá.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
escutando purcell pela manhã
lembro-me de coisas que quero esquecer...
Há uma dor que corrói.
Quero ocupar o tempo o máximo possível
para lembrar-me somente do mínimo.
lembro-me de coisas que quero esquecer...
Há uma dor que corrói.
Quero ocupar o tempo o máximo possível
para lembrar-me somente do mínimo.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
apenas um exercício de Dioniso
Como é facil amar as pessoas
ontem vi em teus poros beleza,
olhei fundo nas marcas de teu rosto.
Seu olhar me chamava
eu queria te amar
senti teu cheiro com as minhas mãos.
quando nos pediram para nos separarmos
obedeci e chorei como se tu fosse aquele amor perdido entre os fios das moiras.
De longe amava cada parte tua: o desenho de teus braços na parede branca,
o queixo que apontava para mim, o cabelo desgrenhado porque esteve entre as minhas mãos. seu andar lento e sua voz que tomava todo espaço daqueles instantes
sem dizer nada audível.
A intensidade do sentir, a força do acreditar e o instante efêmero de ter sido correspondida.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
para dani
terça-feira, 29 de junho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
domingo, 20 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
é impressionante como podemos ocupar o tempo,
tudo para não pensar em como ousei mais uma vez ser algo que não sou.
As perguntas de sempre: o que quero?
quero longe de mim o narcisismo,
quero perto a descoberta de novos caminhos.
auto-descoberta.
deixar-se levar pelo vento, pelo frio,
pelo calor e por arrepios...
mas ter plena consciencia do que sou
e de onde estou.
ASSUMIR-SE nao se esconder por tras de mascaras que ja nao me enganam mais.
ventos de mudança precisam tocar minha alma.
********************************************
Suspiros, sussurros.
A escrita como forma de sublimação.
Tenho lido sobre a imaginação.
É clara a minha imaginação frente a alguns acontecimentos
Para mim as coisas sempre tomam proporções homéricas.
E não era para ser assim.
Estou aqui para aprender e para errar.
Para tentar de novo e mais uma vez viajar nas asas da minha imaginação.
Escuto mais uma vez um sussurro: minha respiração ofegante olha para tras
"Você está sozinha menina!
É forte o suficiente para não ter medo e continuar."
Quantas máscaras preciso arrancar para me olhar nos olhos?
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Muito obrigada por ter me mostrado...
agora isso tambem é meu...
como diz zeca baleiro "poesia nao tem dono"...
salve alberto caeiro:
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido.
agora isso tambem é meu...
como diz zeca baleiro "poesia nao tem dono"...
salve alberto caeiro:
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido.
ODE REMOTA E DESCONTINUA VI
Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga
Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:
Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta
Quando tu, Dionísio, não estás.
Hilda Hilst
agora meu eu do alpendre fala:
tenho um Dionisio...
mas o tenho em meus sonhos.
Ele nao existe de verdade.
Nao posso entrar na vida dele
Só ele entrou na minha.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga
Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:
Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta
Quando tu, Dionísio, não estás.
Hilda Hilst
agora meu eu do alpendre fala:
tenho um Dionisio...
mas o tenho em meus sonhos.
Ele nao existe de verdade.
Nao posso entrar na vida dele
Só ele entrou na minha.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
deitar-me sobre flores.
movimentos no chão e no ar.
Tudo gira ideais e ideias.
sou feita de que?
de açúcar? não.
de tristezas? talvez
de ossos e carne? com certeza.
de alma também.
Mas agora queria que tudo parecesse mais simples.
preto no branco
vermelho no tecido branco
sua presença parece percorrer minha vida além do estar contigo.
Isso não quero.
Sou sozinha, sem açucar, com algumas tristezas, com meu corpo e minha alma...essa talvez...
pensando sobre tudo...
está bem..TUDO é muita coisa.
pensando sobre o estar.
sobre a liberdade.
sobre os sonhos de "donzela".
Amar a pessoa no limite de ambos. Amar sem peso...
sem necessidade de estar perto.
Por que a construção de algo em comum????
...
deixe o comum para quando se tiver vontade. Amor desprendido.
estar NAQUELE MOMENTO com o outro...
depois não mais.
LIBERDADE.
será que consigo?
terça-feira, 1 de junho de 2010
A Moça Tecelã
Marina Colasanti
"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."
Marina Colasanti
"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."
descobertas...hoje dia cansado, dia cheio e ao mesmo tempo vazio.
cheio de gente
vazio de sentidos.
o sentido do dia a dia....
o porque de fazer...posso retrucar no por que de perguntar.
não questione menina.
faça, só nao repita seus erros de sempre....
dani escreveu que eu queria ser tecelã....
mas queria ser como a moça tecelã de marina colassanti...essa sim...tecelã menina, sonhos tecidos, desmanchados e refeitos ao sabor de mãos, olhares e texturas.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
construir mas estou fazendo meu"tecido" com seus detalhes...
corpotecido
peletecido
jeito de olhar
forma de tocar...sempre as mesmas ...pra todas
corpotecido
peletecido
jeito de olhar
forma de tocar...sempre as mesmas ...pra todas
vc tem mais detalhes do que imagina...
mas só vc...eu nao tenho.
sabe por que?
olho pra ti.
presto atenção nos seus detalhes.
vc nao imagina ter tantas minimas sensações até se deparar
com improvável.
eu mais uma.
todas sao especiais
é a mesma coisa que dizer que nenhuma é
o bom é que pra mim algo de novo está se construindo.
estou tecendo novos olhares num novo corpo.
o meu o seu o nosso
sabe por que?
olho pra ti.
presto atenção nos seus detalhes.
vc nao imagina ter tantas minimas sensações até se deparar
com improvável.
eu mais uma.
todas sao especiais
é a mesma coisa que dizer que nenhuma é
o bom é que pra mim algo de novo está se construindo.
estou tecendo novos olhares num novo corpo.
o meu o seu o nosso
ler....
fabricar palavras.
quem sabe assim fico submersa no universo da prosa e poesia.
olhando o cotidiano.
a correria do dia, a insonia da noite.
fabrico sonhos, através da minha insone noite.
No entanto, não posso sonhar com você.
nem te fabricar.
Você já existe, não posso te fabricar.
o tecido da tua pele existe. LEVE MACIO DOCE.
teu cheiro é adocicado.
Mel/canela/menta. Como posso tecer algo liquido e impalpável?
melhor estar com as palavras. provavelmente elas não me jogarão pra fora delas.
Elas me deixam estar aqui.
Minúscula fico a espera olhando o cotidiano.
Somente ele me salva.
Correrias
tiranas
diarias
olhe-me.
No dia-a-dia passo desapercebida.
domingo, 30 de maio de 2010
tarde
janelas... ruínas...
fábricas
fabricar palavras, gestos,
hoje vivi um sonho.
tarde de poesia e olhar.
Como é bom olhar para as coisas como se fosse a primeira vez.
descobrir o que tem de novo no velho
admirar-se com o nada... com o que ruiu...
com o que caiu, com a poeira, com as sombras, consigo mesmo.
REdescobrir a si mesma em um instante de paz.
Sons do tear ecoam na minha memória.
Sons de um passado escondido embaixo de linhas e texturas.
Acho que faço parte daquele lugar.
Mesmo tendo vivido ali apenas em meus sonhos.
fábricas
fabricar palavras, gestos,
hoje vivi um sonho.
tarde de poesia e olhar.
Como é bom olhar para as coisas como se fosse a primeira vez.
descobrir o que tem de novo no velho
admirar-se com o nada... com o que ruiu...
com o que caiu, com a poeira, com as sombras, consigo mesmo.
REdescobrir a si mesma em um instante de paz.
Sons do tear ecoam na minha memória.
Sons de um passado escondido embaixo de linhas e texturas.
Acho que faço parte daquele lugar.
Mesmo tendo vivido ali apenas em meus sonhos.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
queria esquecer alguns momentos...
ela estava deitada e queria ser amada. Mas por quem?
Isso pouco ou nada importava...
as pessoas não importavam..ela só queria o sentimento.
Olhando as unhas sujas ela deitou a cabeça e deixou seu coração
ali.
Merda
ela não sabia o que fazia
Porque sempre é assim??
"a vida é uma soma de escolhas"
ela estava deitada e queria ser amada. Mas por quem?
Isso pouco ou nada importava...
as pessoas não importavam..ela só queria o sentimento.
Olhando as unhas sujas ela deitou a cabeça e deixou seu coração
ali.
Merda
ela não sabia o que fazia
Porque sempre é assim??
"a vida é uma soma de escolhas"
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Palomar
O livro do Calvino, foi muito importante por diferentes razões...
o tempo passa..
algumas marcas ficam
escrever..por que??
o olhar é necessário
a escrita nem sempre
Olhar direto
sem rodeios.
é melhor olhar...
movimento demais com os olhos podem me cansar
quero ficar parada
e de vez em quando poder fechar os olhos
mas quero acordar novamente
o tempo passa..
algumas marcas ficam
escrever..por que??
o olhar é necessário
a escrita nem sempre
Olhar direto
sem rodeios.
é melhor olhar...
movimento demais com os olhos podem me cansar
quero ficar parada
e de vez em quando poder fechar os olhos
mas quero acordar novamente
Alpendre
O alpendre me protege
está entre o interior e o exterior, não é nem uma coisa nem outra...
concordando com Bachelard, minha casa abrigou meus devaneios, meus sonhos...
o alpendre é aquele lugar...do lugar nenhum..não é meu quintal
não é meu quarto.
não é minhas gavetas..não é porão, nem sótão...
o brincar no espaço do alpendre me fez ter uma visão do público e do privado de forma não delimitada....
a ideia dos limites tenues..o alpendre faz parte do limite..ou dos arredores.
estou vivendo no meu alpendre...
está entre o interior e o exterior, não é nem uma coisa nem outra...
concordando com Bachelard, minha casa abrigou meus devaneios, meus sonhos...
o alpendre é aquele lugar...do lugar nenhum..não é meu quintal
não é meu quarto.
não é minhas gavetas..não é porão, nem sótão...
o brincar no espaço do alpendre me fez ter uma visão do público e do privado de forma não delimitada....
a ideia dos limites tenues..o alpendre faz parte do limite..ou dos arredores.
estou vivendo no meu alpendre...
quarta-feira, 19 de maio de 2010
fecho os olhos
Pálpebras...
Fecho os olhos e sinto teu cheiro
Sinto as asas da tua boca chegarem na minha
Recortando movimentos pelo ar.
Minhas asas estão cansadas de voar
quero descansar em teus braços
Fecho os olhos e sinto teu cheiro
Sinto as asas da tua boca chegarem na minha
Recortando movimentos pelo ar.
Minhas asas estão cansadas de voar
quero descansar em teus braços
Cópias
Sou uma parte de mim mesma copiada de quem???....
Talvez de mim mesma....reinventada..sempre
Sabe o que é bom do apaixonar-se???
É a possivel criatividade que dela advem...
seja o apaixonar-se por si mesmo...
ou pelo outro
"não fixe seu foco em mim"
respire
...e reinventa o velho hábito de desejar
posso dar sentido pra cada palavra, pra cada sensação...doida essas questoes de corpo...por uns segundos vc se sente INTEIRA
Talvez de mim mesma....reinventada..sempre
Sabe o que é bom do apaixonar-se???
É a possivel criatividade que dela advem...
seja o apaixonar-se por si mesmo...
ou pelo outro
"não fixe seu foco em mim"
(foco... isso que senti morre logo)
não escreva apenas sinta
se eu te amar?
Isso não existe
Isso não existe
(pele, toque)
deseje
se voce sentir vontades?
nao faça nada
apenas espere.
apenas espere.
respire
como?
olhe nós meus olhos
corpo arde
...e reinventa o velho hábito de desejar
posso dar sentido pra cada palavra, pra cada sensação...doida essas questoes de corpo...por uns segundos vc se sente INTEIRA
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